Floresta em Pé https://florestaempe.online/ Agregando valor aos ativos ambientais e ecológicos Fri, 09 May 2025 21:34:16 +0000 pt-PT hourly 1 A emergência climática e a saúde humana no brasil https://florestaempe.online/2025/05/07/a-emergencia-climatica-e-a-saude-humana-no-brasil/ https://florestaempe.online/2025/05/07/a-emergencia-climatica-e-a-saude-humana-no-brasil/#respond Wed, 07 May 2025 14:44:53 +0000 https://florestaempe.online/?p=938 Um chamado urgente à ação baseado em evidências. Por Fábio Dib[1] As recentes manifestações de eventos climáticos extremos no Brasil – desde ondas de calor intensas […]

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Um chamado urgente à ação baseado em evidências.

Por Fábio Dib[1]

As recentes manifestações de eventos climáticos extremos no Brasil – desde ondas de calor intensas e secas prolongadas na Amazônia até inundações devastadoras no Sul – transcenderam a esfera ambiental para se consolidarem como uma ameaça direta e mensurável à saúde pública e ao bem-estar social. O cenário é complexo, agravado pela perda significativa de superfície coberta por água no país, afetando inclusive reservatórios naturais, intrinsecamente menos resilientes às alterações climáticas, impõe desafios sanitários adicionais.

A íntima ligação entre as mudanças climáticas e a saúde humana posiciona este tema como a maior ameaça global à saúde do século XXI. Os impactos são multifacetados, englobando desde o aumento da incidência de doenças infecciosas (transmitidas por vetores, água ou alimentos) e o agravamento de condições respiratórias e cardiovasculares, até o comprometimento da segurança alimentar e hídrica.

A análise robusta do The Lancet Countdown: foco nos dados para o Brasil

Neste contexto crítico, as avaliações anuais da iniciativa “The Lancet Countdown on Health and Climate Change”[2], uma colaboração multidisciplinar que reúne pesquisadores de 52 instituições e agências da ONU, fornecem um arcabouço científico robusto para compreender e endereçar a crise. Os relatórios oferecem recomendações baseadas em evidências de alta qualidade para subsidiar a tomada de decisão.

O “Lancet Countdown Policy Brief 2023 para o Brasil” e o documento suplementar “Relatório Lancet Countdown 2023 para a América Latina no Brasil”, que sumariza achados-chave do relatório para a América Latina, apresentam dados específicos e alarmantes sobre os impactos no país:

A exposição a altas temperaturas representa risco direto à vida e à saúde, causando doenças relacionadas ao calor e aumentando a demanda por atendimento médico. Grupos vulneráveis como idosos, crianças pequenas, gestantes e comunidades socioeconomicamente desiguais são particularmente atingidos. No período de 2013-2022, indivíduos com menos de 1 ano e com mais de 65 anos experimentaram, em média, um aumento de 206% e 196%, respectivamente, nos dias de ondas de calor anuais, comparado a 1986-2005.

A transmissão de doenças infecciosas, como a dengue, é influenciada por mudanças na temperatura e precipitação. A capacidade do mosquito Aedes aegypti de transmitir dengue aumentou 95% no Brasil entre 2013-2022, comparado a 1951-1960, com o número reprodutivo básico (R0) acima de 1 nacionalmente, indicando potencial de disseminação.

A poluição do ar por material particulado (PM), derivada em parte do uso de combustíveis fósseis, continua a ser uma fonte significativa de carga de doenças. A taxa de mortalidade prematura atribuível ao PM derivado de combustíveis fósseis aumentou 16,7% de 2005 a 2020, contribuindo para o risco de doenças respiratórias e cardiovasculares, câncer de pulmão, diabetes, distúrbios neurológicos e resultados adversos na gravidez, o que onera os serviços de saúde.

Apesar do aumento do compromisso público e político com a saúde e o clima ao longo do tempo, persistem desafios importantes. Em 2022, apenas 31 das 5572 unidades administrativas de segundo nível (0,6%) no Brasil relataram ter realizado avaliações de risco climático em nível municipal.

saúde e mudança climática no Brasil

A robustez desses estudos do Lancet reside na sua abordagem baseada em indicadores quantificáveis e evidências científicas, cobrindo múltiplos setores e permitindo o monitoramento do progresso ou retrocesso em relação às metas de saúde e clima.

Impactos econômicos e sociais: os custos tangíveis da crise

Os prejuízos das mudanças climáticas e seus efeitos na saúde se traduzem em custos econômicos e sociais vultosos para os setores público e privado. O “Data-sheet-Brasil” detalha alguns desses custos:

A exposição ao calor afeta trabalhadores e limita a produtividade. Entre 2013 e 2022, o Brasil perdeu anualmente o equivalente a 6 bilhões de horas de trabalho devido à exposição ao calor, um aumento de 3% comparado ao período de 1991-2000. Isso se traduz em uma perda potencial de renda de US$ 19,5 bilhões por ano.

Em 2020, US$ 7,5 bilhões de dinheiro público, o equivalente a 4,5% dos gastos com saúde, foram destinados a subsidiar combustíveis fósseis. Subsidiar combustíveis fósseis implica o uso de fundos públicos para financiar emissões que são prejudiciais à saúde, representando um custo oculto significativo.

Embora não diretamente do “Data-sheet-Brasil”, outros documentos apontam para perdas econômicas anuais médias de US$ 227 bilhões globalmente entre 2019-2023 devido a eventos extremos relacionados ao clima, um aumento de 23% em relação a 2010-2014. Tais eventos destroem meios de subsistência e infraestrutura crítica, incluindo a de saúde, gerando custos adicionais para o sistema público (SUS).

A perda de vidas, o aumento da carga de doenças infecciosas e crônicas, e o impacto na segurança hídrica e alimentar resultam em custos diretos e indiretos em saúde, absenteísmo e redução da produtividade geral. A falta de acesso à água para 35 milhões de pessoas constitui uma vulnerabilidade agravada pelas mudanças climáticas, com profundas implicações sociais e de saúde pública.

Impactos do calor na saúde

A urgência da adaptação e fortalecimento da estrutura estatal de saúde

Diante da magnitude dos impactos, é imperativo que as ações de mitigação e adaptação sejam aceleradas imediatamente. O fortalecimento da resiliência envolve múltiplos eixos, incluindo educação, planejamento urbano sustentável e investimentos em infraestrutura crítica. A baixa proporção de cidades com avaliações de risco climático demonstra uma lacuna significativa na capacidade adaptativa local.

O papel do Estado, em particular do Ministério da Saúde, é central na resposta. A criação da Coordenação Geral de Mudanças Climáticas e Equidade em Saúde no âmbito do Ministério da Saúde, apoiada pelo Observatório de Clima e Saúde da Fiocruz[3], sinaliza o reconhecimento da prioridade do tema. Este órgão visa organizar ações no SUS, articulando-se com outros ministérios para ações conjuntas de mitigação e adaptação.

A integração de dados climáticos e de vigilância epidemiológica é fundamental para a antecipação e gestão de riscos. O SUS enfrenta desafios na adaptação a eventos extremos, exigindo a expansão de capacidades para emergências sanitárias. O Brasil está no processo de desenvolvimento do novo Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima, que inclui um Plano Setorial específico para a Saúde, focando na redução dos impactos nas pessoas e nos serviços de saúde. O país já possui um compromisso formal, no âmbito da iniciativa ATACH da OMS, para desenvolver sistemas de saúde resilientes ao clima e de baixo carbono. Colocar a saúde das pessoas no centro da formulação de políticas sobre mudanças climáticas é essencial para proteger o bem-estar e reduzir desigualdades.

Reversão da tendência: políticas públicas integradas e mitigação global

A reversão da trajetória atual demanda a implementação de políticas públicas eficazes, intersetoriais e informadas por evidências. As fontes apontam para ações em diversas frentes:
  1. Sistemas Alimentares Sustentáveis: Promover práticas agrícolas de baixo carbono para reduzir emissões de GEE e degradação ambiental. Isso inclui a transição energética para fontes renováveis no setor agrícola, investimentos em inovação e finanças verdes, e a promoção de abordagens baseadas na natureza, como sistemas silvopastoris e pecuária pantaneira, que geram co-benefícios para mitigação e biodiversidade.
  2. Promoção de Dietas Saudáveis: Implementar estratégias eficazes, baseadas no Guia Alimentar para a População Brasileira, para promover hábitos alimentares saudáveis, segurança alimentar e justiça climática. Dietas com maior consumo de vegetais, frutas e grãos integrais reduzem a carga de doenças crônicas e contribuem para a mitigação climática, por exemplo, ao diminuir a demanda por áreas de pastagem. A capacitação de agentes comunitários de saúde é vista como crucial para disseminar estas orientações.
  3. Gestão Hídrica: Abordar a perda de quantidade e a má qualidade da água. A revisão da classificação de rios pela resolução do Conama, buscando a eliminação da Classe 4 que permite a poluição, é fundamental. A aprovação de políticas de proteção de rios e a inclusão da água como direito fundamental na Constituição são pleitos importantes.
  4. Regulamentação e Fiscalização: Fortalecer políticas e regulamentações das atividades comerciais, especialmente do agronegócio, para mitigar determinantes comerciais da saúde que impulsionam dietas não saudáveis e práticas agrícolas insustentáveis.
  5. Adaptação e Resiliência: Fortalecer a capacidade de resposta a eventos extremos, integrando dados climáticos e de saúde, e investindo em infraestrutura resiliente e sistemas de saúde de baixo carbono.

Conclusão

A análise das fontes consultadas, incluindo os dados específicos do “Datasheet Brasil”[4], reforça a evidência de que o Brasil já experiencia severos e crescentes impactos das mudanças climáticas sobre a saúde humana e a economia. A perda de recursos hídricos e a persistente má qualidade da água, o aumento da exposição a extremos de calor e seus efeitos sobre a mortalidade em grupos vulneráveis, a expansão do risco de doenças transmitidas por vetores, os custos econômicos diretos em perda de produtividade e subsídios a fontes poluidoras, e a pressão sobre a infraestrutura de saúde são manifestações concretas dessa crise.

Os estudos do The Lancet Countdown, com sua abordagem baseada em indicadores, oferecem um diagnóstico preciso da situação e apontam para a urgência de uma resposta coordenada. Embora o Brasil tenha demonstrado passos importantes, como a criação de uma coordenação específica no Ministério da Saúde e o compromisso com sistemas de saúde resilientes, a escala dos desafios exige uma aceleração significativa na implementação de políticas. A baixa adesão dos municípios à avaliação de riscos climáticos ilustra a necessidade de fortalecer a capacidade adaptativa em todos os níveis de governo.

Reverter essa tendência e evitar o agravamento do aquecimento global e de eventos climáticos extremos depende intrinsecamente da implementação de políticas públicas intersetoriais e robustas. Medidas que promovam sistemas alimentares sustentáveis e dietas saudáveis alinhadas ao Guia Alimentar Brasileiro, a gestão eficaz dos recursos hídricos, e regulamentações que priorizem a saúde e o ambiente são cruciais. Tais ações não apenas mitigam as causas das mudanças climáticas, mas também geram co-benefícios diretos para a saúde das populações. É imperativo que o Brasil, utilizando as evidências científicas disponíveis, coloque a saúde e o bem-estar de sua população no cerne de sua estratégia climática para construir um futuro mais justo, resiliente e sustentável.

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A crise hídrica brasileira https://florestaempe.online/2025/05/07/a-crise-hidrica-brasileira/ https://florestaempe.online/2025/05/07/a-crise-hidrica-brasileira/#respond Wed, 07 May 2025 13:59:02 +0000 https://florestaempe.online/?p=918 Desafios para a sustentabilidade do setor produtivo e a urgência em banir práticas ilegais Por Fábio Dib[1] Fonte: Agência EBChttps://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-08/fogo-ja-consumiu-13-milhao-de-hectares-e-volta-aumentar-no-pantanal O Brasil, detentor de uma fração […]

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Desafios para a sustentabilidade do setor produtivo e a urgência em banir práticas ilegais

Por Fábio Dib[1]

O Brasil, detentor de uma fração significativa dos recursos hídricos superficiais do planeta, confronta uma realidade cada vez mais complexa e alarmante: a escassez e degradação da qualidade da água, fenômenos que transcendem a preocupação ambiental para se tornarem barreiras concretas ao desenvolvimento sustentável e à segurança hídrica nacional, com impactos diretos sobre setores vitais como o agronegócio. Dados recentes apontam para uma perda expressiva na superfície coberta por água, exigindo uma análise técnica aprofundada e ações jurídicas e de gestão territorial urgentes.

A gravidade do tema: declínio hídrico e a necessidade de romper com o mito da abundância

Em um período de 40 anos, o Brasil registrou uma perda de 1 milhão e 900 mil hectares de superfície coberta por água. Esta diminuição é particularmente crítica em reservatórios naturais, que sofreram uma redução de 2 milhões e 400 mil hectares no mesmo lapso temporal. Embora a criação de 1,5 milhão de hectares de reservatórios artificiais para fins como geração de energia e irrigação tenha ocorrido, estes são intrinsecamente menos resilientes às mudanças climáticas do que os sistemas naturais.

A situação atinge níveis críticos em biomas como o Pantanal, onde a superfície de água permaneceu próxima à mínima histórica durante todos os meses de 2024. Juliano Schirmbeck, coordenador-técnico do Map Biomas Água, ressalta a imperatividade de o país romper com o mito da abundância de água e dedicar maior atenção tanto à quantidade quanto à qualidade deste recurso.

Corroborando este cenário, a qualidade da água nos rios brasileiros é motivo de profunda apreensão. Um levantamento da SOS Mata Atlântica em 17 estados na área de Mata Atlântica demonstrou que apenas 7,6% dos rios monitorados apresentaram qualidade considerada boa, com nenhum manancial atingindo qualidade ótima. A vasta maioria, 75% dos rios estudados, foi classificada como regular, indicando que já sofrem impactos significativos da poluição e demandam tratamento para serem adequados ao consumo humano.

A robustez dos estudos do MapBiomas: metodologia e fontes de dados oficiais

A análise dinâmica da cobertura e uso do solo e da superfície hídrica no Brasil, bem como a detecção de perdas de vegetação nativa (desmatamento), são substancialmente apoiadas pela iniciativa MapBiomas, notadamente o MapBiomas Alerta. Este sistema colaborativo valida e refina alertas de desmatamento em todos os biomas brasileiros empregando imagens de alta resolução.

A solidez metodológica dos estudos do MapBiomas advém da integração de dados provenientes de múltiplos provedores de alertas (incluindo INPE, IMAZON, Universidade de Maryland, ISA, entre outros) e sua subsequente validação com imagens de satélite de alta resolução. É fundamental destacar que, embora o MapBiomas Alerta não avalie a legalidade ou a responsabilidade pelos alertas, ele publica dados objetivos e concretos acerca da ocorrência do desmatamento (perda de vegetação nativa).

Adicionalmente, o MapBiomas utiliza e disponibiliza informações provenientes de fontes oficiais para qualificar os alertas. Entre estas fontes, destacam-se os dados do SICAR (Cadastro Ambiental Rural), consultados via geosserviço, informações do SINAFLOR/IBAMA referentes a autorizações de supressão de vegetação nativa e planos de manejo, e bases de embargos dos órgãos ambientais. Apesar de potenciais limitações em termos de atualização dessas bases oficiais, sua integração confere uma base verificável e robusta aos dados divulgados, posicionando o MapBiomas como uma ferramenta essencial para o monitoramento e a fiscalização por parte de órgãos governamentais, instituições privadas e financeiras.

Potenciais prejuízos para o setor do Agro: sustentabilidade comprometida

A degradação ambiental manifestada pela perda quantitativa e qualitativa dos recursos hídricos impõe prejuízos diretos e indiretos à sustentabilidade das atividades agro-silvo-pastoris. A escassez hídrica impacta a disponibilidade de água para irrigação, eleva os custos de tratamento para uso em processos produtivos e contribui para a perda de solo fértil através da erosão, frequentemente exacerbada pelo desmatamento.

A má qualidade da água, facilitada por normativas permissivas como a Classe 4 de enquadramento de rios, que permite a diluição de esgoto, compromete a saúde dos ecossistemas aquáticos e terrestres, que constituem a base dos recursos naturais de que o agronegócio depende. A crescente dependência de reservatórios artificiais, menos capazes de suportar os efeitos adversos das mudanças climáticas, incrementa a vulnerabilidade do setor a oscilações extremas na disponibilidade hídrica.

A urgência no combate ao desmatamento e conversões ilegais

As práticas ilegais, como o desmatamento não autorizado e a conversão irregular de solos, não se restringem a causar danos ambientais; elas também deterioram a imagem e comprometem a competitividade do segmento do agronegócio que opera em conformidade com a legislação. A persistência de agentes que insistem em atividades ilícitas cria um ambiente de concorrência desleal e mina os esforços de produtores que investem em boas práticas de manejo do solo, dos recursos hídricos e da vegetação nativa.

Neste contexto, a necessidade de combater os desmatamentos e conversões de solos ilegais que prejudicam o setor que respeita a legislação e possui boas práticas de manejo do solo e demais recursos ambientais em suas atividades é premente. A eficácia da fiscalização e a adequação do arcabouço legal são cruciais para garantir a segurança jurídica e ambiental para aqueles que cumprem as normas e contribuem para uma produção verdadeiramente sustentável. A permissividade em certos aspectos da legislação atual, como a classificação de rios, incentiva a perpetuação de práticas predatórias.

Custos potenciais das mudanças climáticas e eventos extremos (“bombas climáticas”)

As projeções e evidências empíricas indicam que as mudanças climáticas tendem a intensificar a frequência e a severidade de eventos climáticos extremos, popularmente denominados “bombas climáticas”. Do ponto de vista das ciências da terra, tais eventos impõem custos econômicos e ambientais significativos ao setor agro-silvo-pastoril.

Secas prolongadas podem levar à exaustão de corpos d’água e à degradação do solo por desertificação. Inundações severas e tempestades intensas causam erosão hídrica acelerada, resultando na perda irreversível de solo fértil, assoreamento de rios e danos à infraestrutura produtiva. A alteração dos regimes pluviométricos e térmicos afeta diretamente os ciclos fenológicos das culturas, a produtividade agrícola e pecuária, e aumenta a susceptibilidade a pragas e doenças. A menor resiliência dos reservatórios artificiais frente a essas flutuações extremas exacerba a dependência e vulnerabilidade hídrica e energética do setor.

A imperativa reversão da tendência negativa: banindo práticas ilegais

A reversão da acentuada tendência de degradação ambiental é urgente e indispensável para a sustentabilidade a longo prazo das atividades produtivas no Brasil. A busca por “lucro fácil” através de práticas ilegais e predatórias, como desmatamento não autorizado, mineração ilegal, grilagem de terras e outras formas de exploração irresponsável, compromete de forma severa o capital natural do país e hipoteca o futuro das gerações.

Para efetivar essa reversão, são necessárias ações coordenadas e contundentes em múltiplas esferas:

  • Revisão da Classificação dos Rios: A eliminação da categoria de enquadramento Classe 4 da legislação do CONAMA, que atualmente permite a diluição de esgoto nos cursos d’água, é vista como um passo fundamental para a melhoria da qualidade hídrica, especialmente em áreas de alta densidade urbana e uso intensivo pelo agronegócio. Um pedido formal para esta revisão já foi encaminhado ao CONAMA.
  • Fortalecimento do Arcabouço Legal: A aprovação de projetos de lei que visam instituir políticas nacionais de proteção de rios, como o PL 2.842/24, é vital, apesar das notáveis dificuldades enfrentadas no processo legislativo.
  • Reconhecimento da Água como Direito Fundamental: A inclusão do acesso à água potável entre os direitos e garantias fundamentais na Constituição Federal pode elevar o nível de proteção jurídica e garantir o acesso a milhões de brasileiros (estima-se que 35 milhões de pessoas no Brasil não tenham acesso à água).
  • Fiscalização Rigorosa e Punição Efetiva: O fortalecimento dos órgãos de fiscalização, o uso de dados precisos de monitoramento como os gerados pelo MapBiomas Alerta, e a aplicação rigorosa da lei com punições exemplares aos infratores são essenciais para desincentivar novas práticas ilegais e proteger o patrimônio ambiental e os atores econômicos que atuam na legalidade.

A superação da crise hídrica e ambiental demanda uma transformação profunda no modelo de interação com os recursos naturais. A água e os ecossistemas não são meros insumos, mas sim a base da resiliência ecológica, da sustentabilidade econômica e da qualidade de vida. A proteção ambiental não é um entrave, mas um pré-requisito inegociável para o desenvolvimento de longo prazo. O futuro do agronegócio brasileiro e a prosperidade nacional estão intrinsecamente ligados à capacidade de proteger e gerir de forma sustentável seus preciosos recursos hídricos e florestais, banindo definitivamente as práticas ilegais que os dilapidam.

[1] Fabio Dib é Advogado, especialista em Direito Ambiental, Urbanístico, Público, Empresarial e do Agronegócio e Mestre em Ciências Ambientais

Fontes e Links Adicionais: Monitor Mercantil: https://www.camara.leg.br/noticias/1150742-brasil-perdeu-quase-2-milhoes-de-hectares-de-superficie-coberta-por-agua-em-40-anos-aponta-pesquisador/

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Gigantes do petróleo aumentam emissões em 2023 apesar da crise climática, revela relatório alarmante https://florestaempe.online/2025/05/05/gigantes-do-petroleo-aumentam-emissoes-em-2023/ Mon, 05 May 2025 12:59:03 +0000 https://florestaempe.online/?p=896 Por Fábio Dib[1] Um novo relatório atualizado da base de dados Carbon Majors[2] lança uma luz perturbadora sobre a persistência da crise climática, revelando que as maiores […]

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Por Fábio Dib[1]

Um novo relatório atualizado da base de dados Carbon Majors[2] lança uma luz perturbadora sobre a persistência da crise climática, revelando que as maiores entidades produtoras de combustíveis fósseis e cimento aumentaram coletivamente suas emissões em 0,7% em 2023 em comparação com o ano anterior. Estas 169 entidades ativas no banco de dados foram responsáveis por uma esmagadora maioria, 78,4%, das emissões globais de CO₂ provenientes de combustíveis fósseis e cimento no ano passado. Alarmantemente, apenas 36 dessas empresas estão associadas a mais da metade dessas emissões globais.

O estudo destaca que estas grandes empresas de carbono “mantêm o mundo dependente de combustíveis fósseis” e, de forma preocupante, “não possuem planos para reduzir a produção”. Em 2023, a maioria delas (93 entidades) de fato aumentou suas emissões. Entidades estatais dominam a lista dos 20 maiores emissores, representando 16 delas em 2023, e foram o tipo de entidade que mais expandiu suas emissões no ano.

A análise reforça a crítica contundente do documento: “empresas privadas sujas, movidas por lucros e pelo business as usual, nunca escolherão a autorregulação”. Sua influência se estende à política, com muitas dessas empresas, tanto abertas quanto estatais, mantendo “posições não favoráveis ou de oposição” à política climática, conforme indicado por dados do LobbyMap”.

Diante desse cenário, o relatório endossa a urgência de uma transição para modelos econômicos e energéticos sustentáveis.[3] No entanto, a base de dados Carbon Majors, reconhecida como uma “ferramenta crucial para responsabilização”, sugere que esta mudança não virá voluntariamente da indústria. A solução, conforme implícito e explicitamente defendido no documento, reside em “ações governamentais decisivas e obrigatórias”.

Os governos, segundo o relatório, devem “usar sua autoridade para acabar com a causa raiz da crise em que nos encontramos: a expansão dos combustíveis fósseis”. Isso inclui a imposição de responsabilidade financeira através de leis como as “Climate Superfund”, que obrigam grandes emissores a financiar o reparo de danos climáticos. A base de dados é ativamente utilizada em litígios e regulamentações, inclusive para fundamentar potenciais acusações criminais contra executivos, visando transformar forçadamente os modelos de negócio.

Embora a complexa relação entre a demanda do consumidor e a produção industrial não seja o foco central deste relatório específico, que se concentra na atribuição de emissões aos produtores e na necessidade de regulação estatal, a situação delineada é clara: a inércia corporativa e a lentidão governamental persistem. Vivemos um “momento crítico na história da humanidade”.

 

Em conclusão: Os dados de 2023 reiteram que a responsabilidade primária pelas emissões históricas e atuais recai sobre um grupo relativamente pequeno de grandes produtores. A ausência de planos de redução de produção e a oposição ativa à política climática por parte dessas entidades demonstram que a mudança sistêmica necessária não ocorrerá por autorregulação. A transição urgente e justa defendida pelo relatório exige intervenção governamental robusta e obrigatória. Para que essa intervenção aconteça e supere a resistência corporativa, é fundamental que a sociedade civil, informada por dados como os do Carbon Majors, aja e pressione seus governos por políticas e regulamentações que forcem o fim da expansão dos combustíveis fósseis e garantam a responsabilização pelos danos climáticos já causados

[1] Fabio Dib é Advogado, especialista em Direito Ambiental, Urbanístico, Público, Empresarial e do Agronegócio e Mestre em Ciências Ambientais

[2] https://carbonmajors.org/

[3] https://carbonmajors.org/briefing/The-Carbon-Majors-Database-2023-Update-31397

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Incêndios florestais na América do Sul: um ciclo vicioso de destruição https://florestaempe.online/2025/04/16/incendios-florestais-america-sul-um-ciclo-vicioso-destruicao/ https://florestaempe.online/2025/04/16/incendios-florestais-america-sul-um-ciclo-vicioso-destruicao/#respond Wed, 16 Apr 2025 15:02:39 +0000 https://florestaempe.online/?p=786 O World Resources Institute (WRI) analisa a crise dos incêndios florestais na América do Sul, com foco na Bolívia, Brasil e Peru, revelando um ciclo vicioso […]

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O World Resources Institute (WRI) analisa a crise dos incêndios florestais na América do Sul, com foco na Bolívia, Brasil e Peru, revelando um ciclo vicioso de destruição impulsionado pela ação humana e agravado pelas mudanças climáticas.

A seca e as altas temperaturas, intensificadas pelo El Niño, criaram condições propícias para a propagação do fogo, resultando em incêndios recordes na Amazônia, com impactos devastadores para a biodiversidade, o clima e as comunidades locais.

O desmatamento para a expansão da agricultura e pecuária é apontado como um dos principais fatores que contribuem para a intensificação dos incêndios florestais. A derrubada de árvores e a queimada para a abertura de novas áreas de cultivo tornam a floresta mais seca e vulnerável ao fogo, criando um ciclo de degradação que ameaça a saúde do ecossistema e sua capacidade de absorver carbono da atmosfera.

Os incêndios florestais liberam grandes quantidades de carbono na atmosfera, agravando o aquecimento global e impactando a qualidade do ar em regiões distantes. O WRI alerta para a necessidade urgente de combater o desmatamento, fortalecer as políticas de prevenção e combate a incêndios e promover alternativas sustentáveis para o uso da terra, como a agricultura familiar e o manejo florestal comunitário. Somente com ações conjuntas e eficazes será possível romper o ciclo de destruição e proteger a floresta amazônica, um dos ecossistemas mais importantes do planeta.

Fonte: WORLD RESOURCES INSTITUTE (WRI). 6 gráficos explicam os incêndios florestais na América do Sul. Washington, D.C., 19 set. 2024. Disponível em: https://www.wribrasil.org.br/noticias/6-graficos-para-entender-queimadas-nas-florestas-do-brasil-e-da-america-do-sul 

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Estado do Clima em 2024: Um sinal de alerta para a humanidade https://florestaempe.online/2025/04/16/estado-clima-2024-um-sinal-alerta-para-humanidade/ https://florestaempe.online/2025/04/16/estado-clima-2024-um-sinal-alerta-para-humanidade/#respond Wed, 16 Apr 2025 15:02:20 +0000 https://florestaempe.online/?p=784 O relatório “State of the Climate 2024” da OMM apresenta um panorama preocupante sobre o estado do clima global. Fonte: https://metsul.com/2024-01-12-clima-planeta-berkeley-earth/https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58351196 O ano de 2024 está a […]

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O relatório “State of the Climate 2024” da OMM apresenta um panorama preocupante sobre o estado do clima global.

O ano de 2024 está a caminho de ser o mais quente já registrado, com as temperaturas globais ultrapassando o limite crítico de 1,5°C estabelecido no Acordo de Paris. Esse aquecimento acelerado é impulsionado pela alta concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, que atingiu níveis recordes em 2023 e continuou a aumentar em 2024, evidenciando a ineficácia das medidas globais para reduzir as emissões.

O relatório destaca o impacto do aquecimento global sobre os oceanos, que absorvem cerca de 90% do excesso de calor retido na Terra. O aumento da temperatura dos oceanos contribui para a elevação do nível do mar, a acidificação das águas e a intensificação de eventos climáticos extremos, como furacões e ciclones. O derretimento de geleiras e calotas polares também é acelerado pelo aquecimento global, contribuindo para a elevação do nível do mar e ameaçando ecossistemas e comunidades costeiras.

A OMM enfatiza a urgência de ações para mitigar as emissões de gases de efeito estufa e fortalecer a adaptação às mudanças climáticas. A implementação de energias renováveis, a eficiência energética e a mudança para uma economia de baixo carbono são medidas essenciais para frear o aquecimento global. A adaptação, por sua vez, requer investimentos em infraestrutura resiliente, sistemas de alerta precoce para eventos climáticos extremos e políticas públicas que protejam as populações mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas.

Fonte:  WORLD METEOROLOGICAL ORGANIZATION (WMO). State of the Climate 2024. Update for COP29, https://wmo.int/publication-series/state-of-climate-2024-update-cop29

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Acelerando rumo ao desconhecido https://florestaempe.online/2025/03/19/acelerando-rumo-ao-desconhecido/ https://florestaempe.online/2025/03/19/acelerando-rumo-ao-desconhecido/#respond Wed, 19 Mar 2025 21:59:11 +0000 https://florestaempe.online/?p=714 Análise do Relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) de 2023 Ocha/Reuters https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58351196 O professor Luiz Marques, do IFCH-Unicamp, analisa o relatório da OMM de 2023, revelando […]

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Análise do Relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) de 2023

O professor Luiz Marques, do IFCH-Unicamp, analisa o relatório da OMM de 2023, revelando um panorama alarmante sobre a insegurança alimentar no mundo, com 2,3 bilhões de pessoas afetadas, um aumento de 350 milhões em relação a 2019. Esse aumento é atribuído, em grande parte, aos impactos das mudanças climáticas, como secas, inundações e eventos climáticos extremos que prejudicam a produção agrícola. O relatório também aponta para a elevação do nível do mar como um fator agravante, ameaçando comunidades costeiras e impactando a disponibilidade de água potável.

O relatório da OMM questiona se o salto no aquecimento global em 2023 nos coloca em “território desconhecido”. As temperaturas recordes registradas, combinadas com o aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, sugerem que estamos entrando em uma fase de acelerada e imprevisível mudança climática. As consequências para a humanidade são incertas, mas as projeções indicam um futuro com eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos, impactando a produção de alimentos, a disponibilidade de água e a segurança de milhões de pessoas.

Diante desse cenário, o professor Marques enfatiza a necessidade urgente de ações globais para mitigar as emissões de gases de efeito estufa, fortalecer a resiliência das comunidades frente aos impactos das mudanças climáticas e promover a justiça social, garantindo que os mais vulneráveis não sejam os mais afetados por essa crise global. A análise do relatório da OMM serve como um chamado à ação para governos, empresas e cidadãos, reforçando a necessidade de um compromisso coletivo para proteger o planeta e garantir um futuro sustentável para as próximas gerações.

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